quinta-feira, 6 de junho de 2013

O INÍCIO DO "FUNNY CAR"

                                     A historia dos Ramchargers e o nascimento do Fanny car.

Imagine o fim dos anos 50;   o automóvel esta em sua maturidade e longe estão os dias em que ele não passava de um “calhambeque”, frágil, lento e desconfortável.
A indústria automobilística americana impõe os standarts de como um carro deve ser: confortável, potente, seguro, confiável e com um design de fazer o coração bater mais forte. Nada mais natural que essas obras primas fossem usadas para algo a mais do que somente ir e vir do trabalho, ou seja, o destino de muitos deles foram as pistas de competição.    
Essa também foi a época do fortalecimento das duas categorias de maior sucesso do automobilismo americano, a NASCAR e a NHRA. Essas corridas levavam (e ainda levam) milhares de pessoas aos autódromos e acabavam por influenciar os mais fanáticos a não apenas assistir mas a participar das corridas. Nesse período surgiu um time de aficionados que ajudou a impulsionar o fenômeno Drag Racing, e também acabou criando uma categoria própria, a Funny Car, estamos falando dos “Ramchargers”.
A arrancada americana, em seus primeiros anos, era um esporte era bastante amador. Para competir, bastava que o piloto tivesse uma carteira de motorista válida e que o carro estivesse com o emplacamento em dia. Isso ajudou muito a popularização das corridas e centenas de clubes de aficionados começaram a pipocar pelo país. Bastava que alguns amigos, apaixonados pelo mesmo tipo ou marca de carro se reunissem nos fins de semana e pronto, um clube estava criado. Não muito diferente do que acontece hoje aqui no Brasil.
Os ”Ramchargers” não eram nada mais do que um desses clubes, porém algumas particularidades os faziam diferentes. Em primeiro lugar, todos os integrantes eram engenheiros mecânicos e em segundo lugar, todos trabalhavam para uma única empresa, a Chrysler.
Acelerar no ¼ de milha era para eles somente um hobby de fim de semana e demorou algum tempo para que eles tivessem apoio financeiro da própria Chrysler. A vantagem que o grupo tinha sobre os demais concorrentes era óbvia, ninguém no país conhecia melhor o equipamento guardado sob o capo de seus carros, afinal, todos estavam envolvidos na criação e desenvolvimento dos motores da empresa. Completando a situação, em 1957 a Chrysler tinha lançado aquele que se tornaria a maior lenda entre os V8 americanos, o “HEMI”.
Plymouth High and Mighty
O primeiro carro construído por eles foi uma Plymouth 1949 coupe batizada de “High and Mighty” (alta e poderosa), equipada com um motor HEMI de 354 pol. Cub. e contava com 2 carburadores quadrijet Carter montados em uma admissão extremamente elevada em relação ao motor. Esse tipo de admissão provou ser de grande sucesso nas pistas e deu origem ao “Tunnel Ram” que conhecemos hoje em dia. Esse tipo de admissão é usado na categoria que reúne os carros V8 apirados mais fortes do planeta, a “Pro Stock”. Esse fato já prova que a genialidade mecânica dos Ramchargers era inquestionável.
O carro era uma visão bem estranha nas pistas, o modelo Plymouth não era o favorito entre os pilotos e preparadores e só foi escolhido pela equipe por ser um produto Chrysler e também por ser bem barato, afinal no começo, tudo não passava de uma brincadeira.  Além da novidade do “Tunnel Ram”, o carro foi pioneiro em outras técnicas que acabariam virando regra nas pistas. Pelas fotos podemos ver que ele era muito alto em relação ao solo, isso sem contar com mais uma novidade, a carroceria era deslocada no chassis. Tudo isso tinha uma boa explicação: como todo bom engenheiro, os preparadores deste carro tinham uma grande afinidade com a “Física”, e a ideia deles era que, com a carroceria deslocada em relação ao carro original, no momento da largada boa parte do peso dele fosse transferido para o eixo traseiro, aumentando assim a tração das rodas.
Dodge Dart com eixos alterados
A “engenhoca” provou ser um sucesso pois o carro bateu o Record da categoria em 1959 e 1960, sendo a sua melhor marca 11,8 segundos a 117 milhas por hora. O carro deixou a técnica como herança para as outras equipes e os carros com a frente alta passaram a ser comuns nas pistas por todo o país. Estava assim criada a categoria dos “Gasser”

Na tentativa de dar continuidade ao sucesso, a equipe buscou a partir de 1962 o apoio da Dodge, depois que a Plymouth recusou  patrocinar a equipe. Com isso eles passaram a correr com Darts e como são carros com estrutura monobloco, não era possível mover a carroceria em relação ao chassis, como na velha Plymouth. A solução foi mover o eixo traseiro em direção a frente do carro. Essas máquinas bizarras chamavam muito a atenção do público que passaram a  chamá-los de “Funny looking cars” (carros com aparência engraçada) e depois simplesmente “Funny Cars” . E assim foi o nascimento da categoria.
Nesta foto, um "funny Car" Ramcharger, ditando as regras da categoria

Os Ramchargers continuaram a carreira nas pistas, com muito sucesso, inclusive alguns membros da equipe deixaram o trabalho da Chrysler e passaram a se dedicar em tempo integral as competições. A última temporada da equipe foi em 1986, com uma Plymouth Cuda 1970 e esse é o único carro legítimo que pertenceu ao time e que sobreviveu. Em 1997 ela foi totalmente restaurada e se apresenta regularmente em exposições e eventos “Drag Racing” pelo país.
Cuda Ramcharger

O nome “Ramcharger” ficou tão famoso nos EUA que hoje ele é uma marca registrada e recentemente foi lançado um livro contando em detalhes a trajetória desses pioneiros.


Ramcharger Dart, com injeção mecânica de gasolina

texto Rubens Florentino
revisão Estela Dapper



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