Em 2013 a marca completa 110 anos de vida e para comemorar teremos
vários lançamentos no mercado mundial.
Não são exatamente modelos novos, mas motos já existentes
com uma nova roupagem. Um verdadeiro sonho para os colecionadores.
Talvez essa seja uma boa oportunidade para sabermos um pouco
mais sobre a lendária marca. É difícil falarmos sobre Harley-Davidson sem
recorrermos a clichês. Como poderíamos qualificar essas motos sem cair no lugar
comum e sem usar frases que já foram escritas a exaustão? Não há outra maneira
de nos referirmos a algo que é realmente um ícone, uma lenda, um símbolo da
rebeldia e da contracultura. É a própria liberdade, personificada em porcas, parafusos,
plástico e borracha.
Pergunte
aos integrantes de qualquer banda de Rock bem famosa, sobre suas origens e
todos vão responder a mesma coisa: “Nós nunca imaginamos que seríamos tão
famosos...” essa frase poderia muito bem ser aplicada a Harley-Davidson. William S. Harley e Arthur Davidson,
seus fundadores, começaram com a simples ideia de adaptar um motor à gasolina
em uma bicicleta, com o propósito de não precisar pedalar nas subidas da cidade
de Milwaukee, no estado de Wisconsin.
A primeira tentativa foi um grande fracasso, porém a segunda bicicleta
motorizada foi um sucesso e logo eles a estavam fabricando com fins comerciais.
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Harley - Davidson 1920 |
O crescimento da marca foi meteórico, em alguns anos ela já
era o maior fabricante de motocicletas dos EUA e uma das maiores do mundo. O
pequeno “barraco” de 4,00 x 3,50 metros quadrados em que eles começaram a
fabricação, teve de ser logo substituído por um prédio bem maior. Como
lembrança de suas origens, essa pequena
oficina foi toda desmontada e novamente montada no pátio da nova fábrica
e lá permaneceu até o início dos anos 70, quando uma empresa de construção, por
engano, derrubou o barraco com um trator.
Um
dos maiores orgulhos da Harley é justamente ter sobrevivido às maiores crises econômicas
tanto as americanas quanto as mundiais. Nos anos que antecederam a quebra da
bolsa de valores de Nova York, em 1929, a Harley vendia uma média de 20.000
motocicletas anualmente; no auge da crise, esse número chegou a cair para 9.000
unidades.
Um novo ânimo nas vendas chegou junto com a Segunda Guerra,
pois o exército americano encomendou uma versão militar das, já famosas,
motocicletas. Esse modelo contava com maior altura do solo e pneus lameiros.
Mais de 100.000 unidades foram vendidas para as forças armadas dos EUA e do
Canadá.
Com o final da guerra, o excedente dessas Harleys foi vendido
a preço de banana para a população civil. Os novos donos alteravam as
características “fora de estrada” para torná-las mais rápidas e dóceis para a
pilotagem nas ruas. Essas motos alteradas passaram a ser conhecidas por
“Bobbers” e representam o início do fenômeno “Chopper”.
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Harley versão militar, para a Segunda Guerra Mundial |
As Harleys passaram aos poucos a povoar o universo
underground da América. A partir dos anos 50 a marca tornou-se a favorita das
gangues de motoqueiros que corriam as estradas dos EUA e em 1969 foi lançado o
filme “Easy Rider”, um marco da contra cultura no cinema (aqui no Brasil foi
lançado com o nome de “Sem Destino”). O filme retrata a aventura de dois harleyros
hippies que cruzam os EUA em uma viagem psicodélica.
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Cena do filme "Easy Rider" de 1969 |
No auge da popularidade da marca, a Harley-Davidson sofre o
maior golpe de sua história. Na esperança de atrair uma parceira rica, a marca
foi vendida para a AMF, American
Machine and Foundry.
Mesmo com a
promessa de não interferir no andamento da fábrica, os novos donos decidiram
“botar ordem na casa” e as novas diretrizes não foram muito bem vindas pelos
funcionários.
A fábrica da
Harley sempre foi um ambiente muito descontraído, para não dizer bagunçado; nunca
foi exigido dos trabalhadores o uso de uniformes e era permitido, inclusive,
fumar durante as atividades. Em alguns setores não era raro ver funcionários
com uma latinha de cerveja nas mãos, durante o expediente.
A própria linha
de montagem era meio desorganizada: uma moto “ziguezagueava” por nada menos que
oito galpões, antes ser considerada pronta para venda.
Com uma linha
de montagem mais eficiente a ideia, dos novos proprietários, era dispensar o
excesso de empregados.
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Fat Boy de 1981, produzida pela AMF |
Com a proposta
de arrumar essas falhas, a AMF acabou por fazer muitas inimizades, afinal,
nenhum dos trabalhadores queria ver alguém estranho mudando as regras de um
local de trabalho que muitos consideravam a sua própria casa.
Os resultados
dessa insatisfação foram greves constantes e trabalhadores desmotivados. As
motos produzidas nos anos em que a AMF esteve no comando foram marcadas por
baixa qualidade, o que empurrou muitos clientes da Harley para as marcas japonesas, que estavam
invadindo o mercado americano e mundial com produtos confiáveis e de baixo
preço.
A má fama das
motos chegou a um ponto em que os consumidores acabaram criando vários apelidos
para elas, o mais divertido talvez seja “Hardly-Drivable” (difícil de dirigir).
Em 1981, a
antiga diretoria da marca juntou forças com novos investidores e, com muito
esforço, conseguiram comprar a Harley Davidson das mãos da AMF. Essa batalha
estava vencida. Porém, os maiores inimigos da marca, as motos nipônicas, ainda estavam
empurrando a HD em direção a falência.
Nos primeiros
anos da década de 80, os CEOs da Harley convenceram o governo americano a aumentar
abusivamente os impostos de motos importadas acima de 750cc. Com essa medida,
as japonesas (e as inglesas, e as italianas...) de grande cilindrada ficaram
45% mais caras, dando um fôlego nas vendas das Harleys.
O momento era
de decisão e mesmo com as artimanhas governamentais, ajudando a sobrevivência
da marca, o período era extremamente delicado. Foi aí que eles deram mais uma
tacada de mestre: a diretoria percebeu que era inútil bater de frente com as
motos japonesas, que eram muito mais rápidas, eficientes e tecnológicas, então
foi decidido simplesmente dedicar os esforços na produção de motos com um
visual mais “retrô”, revivendo uma época em que as HD reinavam absolutas.
A ideia funcionou
e com o marketing baseado em uma imagem nostálgica as vendas começaram a
melhorar e em poucos anos as Harley Davidson passaram do underground para as
garagens das famílias de classe média em todo mundo.
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V-ROD Black edition |
Com a popularização das vendas, boa
parte da liberdade e da rebeldia, que a marca invoca, fica perdida lá nos anos
50 e 60, mas as novas gerações de “Harleyros” têm tentado reviver essa magia todos os fins de semana, pelas
estradas deste mundo.
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Cena do filme "Wild Hogs" |
Na próxima vez
que você cruzar com uma Harley, na cidade ou na estrada, imagine que a pessoa,
pilotando a moto, pode ser um(a) pacato dentista, vendedor, engenheiro ou seja
lá o que for, mas no momento em ele(a) veste a jaqueta de couro e dá a partida
no “V Twin”, o velho espírito rebelde assume o comando e tudo o que importa é
olhar para o horizonte e ver o céu se encontrando com o asfalto. “Born to be Wild”...
Texto Rubens Jr.